Ó minha África misteriosa, natural!
Minha virgem violentada!
Minha Mãe!...
Como eu andava há tanto desterrada
de ti, alheada, distante e egocêntrica
por estas ruas da cidade engravidadas de estrangeiros
Minha Mãe! Perdoa!
Como se eu pudesse viver assim,
desta maneira, eternamente,
ignorando a carícia, fraternalmente morna
do teu olhar… Meu princípio e meu fim…
Como se não existisse para além dos cinemas e cafés
a ansiedade dos teus horizontes estranhos,
por desvendar…
Como se nos teus matos cacimbados,
não cantassem em surdina a sua liberdade, as aves mais belas,
cujos nomes são mistérios ainda fechados!
Como se teus filhos
- régias estátuas sem par –
altivos, em bronze talhados,
endurecidos no lume infernal
do teu sol
causticante
tropical –
Como se teus filhos
intemerados, sofrendo,
lutando,
à terra amarrados
como escravo trabalhando, amando,
cantando,
meus irmãos não fossem!
- Ó minha Mãe África –
Magna pagã, escrava sensual
mística, sortílega,
à tua filha tresvairada,
Abre-te e perdoa!
Que a força da tua seiva vence tudo
e nada mais foi preciso que o feitiço impor
dos teus tantãs de guerra chamando,
dum-dum-dum-tam-tam-tam
dum-dum-dum-tam-tam-tam
para que eu vibrasse
para que eu gritasse
para que eu sentisse! – fundo no sangue da tua voz – Mãe!
E vencida reconhecesse os nossos erros
e regressasse à minha origem milenar…
Mãe! Minha mãe África,
das canções escravas ao luar,
Não posso, NÃO POSSO, renegar
o Sangue negro, o sague bábaro
que me legaste…
Porque em mim, em minha alma, em meus nervos, ele é mais
forte que tudo!
Eu vivo, eu sofro, eu rio,
através dele.
Mãe!...
Poema de Noémia de Sousa
Agradecimentos de António Jorge Miranda pelo belo poema
Agradecimentos de António Jorge Miranda pelo belo poema